Médicos da Santa Casa de Piracicaba, o
cardiologista Humberto Passos, o nefrologista Alex Gonçalves e a gastro/hepatologista Ana Claudia Oliveira,
considerada hoje uma das maiores autoridades em fígado no Brasil, estiveram
reunidos nesta semana no Salão Nobre do Hospital para discutirem, junto a
profissionais da Instituição, o caso de uma paciente jovem com quadro de
uma falência cardíaca hepática e renais súbitas em praticamente 24 horas.
“A complexidade desse caso específico
envolve um dado relacionado ao uso de fitoterápico para emagrecimento. A
paciente em questão deu entrada pela cardiologia com suspeita de enfarte, mas
na verdade tratava-se de falência generalizada com desfecho trágico e
triste. Por essa razão, discutimos todos esses aspectos ligados ao processo de
emagrecimento e uso de fitoterápicos, que não é sempre benéfico como
muitos consideram”, salienta Passos ao enfatizar que o fato ocorrido
recentemente no Hospital reacende a necessidade de se discutir um pouco mais e
ampliar o conhecimento nesta área.
De acordo com ele, o uso indiscriminado
e sem controle de fitoterápicos tem como prerrogativa o aumento cada vez maior
da possibilidade desse quadro clínico. “Infelizmente, essa paciente foi a óbito
por falência generalizada e precisamos trazer isso à tona exatamente como
aprendizado e como possibilidade de assistência adequada ao quadro”, salientou.
O uso sem controle de fitoterápicos
também ocasionou a morte da enfermeira Edmara Silva de Abreu, de 42 anos, em
São Paulo, em fevereiro deste ano. O caso, na época, teve repercussão nacional
e, desde então, a comunidade médica e científica tem intensificado e propagado
o perigo do consumo de medicamentos - sejam eles sintéticos ou os ditos
naturais - de forma indiscriminada. Na época, a enfermeira havia sido
diagnosticada com uma hepatite fulminante decorrente do consumo de um composto
de "ervas para emagrecimento". O produto, vendido em cápsulas, se
dizia "natural" e, na composição, continha ervas como chá verde,
carqueja e mata verde, substâncias hepatotóxicas, que podem causar danos ao
fígado.
Durante o encontro, o nefrologista Alex
Gonçalves, que também é referência em doença renal crônica avançada e atuante
no campo de doenças genéticas e raras, reforçou que é ”imprescindível discutir
os agentes que afetam o fígado, um órgão extremamente importante em termos de
metabolismo e que tem a função de sintetizar as substâncias que ingerimos e,
quando afetado por alguma agressão aguda ou crônica, traz sérias consequências,
precisando em muitos casos do transplante ou levando o paciente à morte”,
enfatiza.
"A hepatite aguda tem vários
fatores associados, inclusive o uso de medicamento de forma
inadvertida, a exemplo dos chamados naturais, os quais as pessoas
acreditam não fazerem mal por serem naturais. Há uma lista de fitoterápicos e
chás utilizados para emagrecer e para o bem-estar, os chamados detox
do fígado que, na verdade, são potenciais que levam à lesão do órgão",
salienta a gastro/hepatologista Ana Claudia.
Ela alerta ainda que as pessoas precisam parar com a automedicação e entender o quão isso é perigoso. "Antes de tudo, as pessoas precisam consultar seu médico, se informar sobre o que vai ingerir, o porquê, a quantidade exata e o tempo dessa ingestão. Hoje em dia, as pessoas usam o anti-inflamatório como se fosse um analgésico. Isso tornou-se cultural e precisamos alertar a todos que há vários anti-inflamatórios extremamente tóxicos para o fígado e que podem levar a pessoa à morte dependendo da quantidade e do tempo de uso”.
Autoria: Fernanda Moraes Fonte: Santa Casa de Piracicaba