A equipe médica da Santa Casa de
Piracicaba anunciou o primeiro transplante de órgãos de paciente diagnosticado
com covid-19, em ação conjunta com o SPOT - Serviço de Procura de Órgãos e
Transplantes, da OPO (Organização de Procura de Órgãos) da
Unicamp/Campinas. De acordo com o médico intensivista e coordenador
das Unidades de Terapia Intensiva da Santa Casa de Piracicaba, Rafael Angelo
Tineli, a instituição foi a primeira da região a realizar o procedimento
baseado no novo protocolo para Transplante de Órgãos de Pacientes
Diagnosticados com Covid-19.
“Estudo recente mostra que pessoas que
morreram com covid-19 podem ter órgãos doados sem risco de infecção para os
receptores. Há ainda algumas restrições sendo necessária uma análise criteriosa
e avaliação de risco-benefício para aceite de doadores, afirma Tineli. Um
estudo a respeito, foi divulgado recentemente na revista Clinical Microbiology
and Infection.
Segundo Tineli, a reanálise da situação, considerando o aumento de pacientes em
lista de espera para transplante, amplia a possibilidade de atuação das OPOs e
permite uma esperança a mais para quem está na fila de espera por um
transplante.
De acordo com último levantamento
publicado pela ABTO (Associação Brasileira de Transplante de Órgãos), em junho
de 2021, havia no Estado de São Paulo 13.574 pessoas à espera de um novo rim,
no caso do fígado eram 352 pacientes. Em todo País, até junho do ano passado,
mais de 26,2 mil pessoas aguardam por um novo rim e outras 1.126 pelo
transplante de fígado.
DOAÇÃO DE ÓRGÃOS - Tineli explica que a vontade da família em doar os órgãos ainda
prevalece, mesmo após aprovação da lei que permite ao motorista informar que é
doador de órgãos em sua carteira de habilitação. “A palavra final é sempre dos
familiares. No entanto, todas as iniciativas são bem-vindas. Neste caso
descrito mesmo, a esposa e a filha decidiram por doar os órgãos, pois sabiam
que essa era uma vontade do paciente”, explica.
“Nossa atuação tem a finalidade não
apenas de organizar, no âmbito do hospital, o processo de captação de órgãos e
tecidos para transplantes, mas também de humanizar e acolher esse familiar
responsável por decidir pela doação que pode salvar inúmeras vidas”, salienta
Tineli que ressalta ainda o fundamental trabalho desempenhado pela CIHDOTT-
Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes da
Santa Casa de Piracicaba coordenada pelo cardiologista Wilson Pacheco
Ballassini.
Ballassini ressalta que foi uma grata
surpresa o primeiro transplante de paciente covid-19 ter ocorrido na Santa Casa
e que a Comissão vai, junto com a OPO, acompanhar a evolução do paciente
transplantado. “Como coordenador estou muito satisfeito com o empenho e
incansável trabalho realizado pela Comissão, em todos os setores do hospital.
Uma sintonia que nos oferece condições favoráveis ao protocolo”, ressalta
Segundo a enfermeira coordenadora da
CIHDOTT, Milena Pessoa, a equipe atua numa corrida contra o tempo, e nesse
ínterim precisa fazer todo um trabalho de acolhimento aos familiares, ao mesmo
tempo em que precisa agilizar todo trâmite para que encontrem um receptor
compatível e que todo processo seja realizado dentro de todos os
protocolos para manter a saúde do órgão doado. “O ato de doar exige muita
coragem e desprendimento. Significa transpor a dor da perda, as dúvidas, o
apego, pela ideia de fazer o bem ao outro, dar uma segunda chance, doar
esperança. Hoje, atuando na equipe de captação de órgãos, e sabendo que
milhares de pessoas precisam dessa doação para voltar a ter a esperança da vida,
tornam esse trabalho ainda mais necessário”.
Milena disse ainda que com o início da pandemia da covid-19, as doações
diminuíram bastante e os pacientes infectados eram impossibilitados de realizar
qualquer doação. “Vivenciar essa nova realidade [da possibilidade de um
paciente covid-19 ser doador] nos mostra os avanços dos estudos sobre o novo
coronavírus e que permitiram que essa restrição fosse repensada. Sabemos que
ainda temos muitos desafios, mas esse passo foi mais uma vitória contra a
covid-19, mais um sopro de esperança aos pacientes que aguardam na fila por um
órgão”, salientou.
Autoria: Fernanda Moraes Fonte: Santa Casa de Piracicaba